quarta-feira, 25 de junho de 2014

Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção

     A característica essencial de Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção é um padrão persistente de falta de atenção e/ou impulsividade-hiperatividade, com uma intensidade que é mais frequente e grave que o observado habitualmente nos sujeitos com um nível semelhante de desenvolvimento. Alguns problemas relacionados com os sintomas devem ocorrer, pelo menos, em duas situações (por exemplo, em casa e na escola ou no trabalho). Devem existir provas claras de um défice clinicamente significativo do funcionamento social, académico ou laboral.
     As faltas de atenção podem manifestar-se em situações escolares, laborais ou sociais. Os sujeitos com esta perturbação podem não dar atenção suficiente aos pormenores ou podem cometer erros por descuido nas tarefas escolares ou noutras tarefas. Os trabalhos são muitas vezes desordenados, descuidados e feitos sem reflexão. Os sujeitos podem experimentar deficuldades em manter a atenção em tarefas ou atividades laborais ou lúdicas e acabam por ter dificuldade em persistir nas tarefas até as finalizar. Frequentemente, parecem estar a pensar noutra coisa, como se não tivessem ouvido aquilo que acabou de se lhes dizer. Podem fazer frequentes mudanças de uma atividade incompleta para outra. Os sujeitos diagnosticados com esta perturbação podem começar uma tarefa, mudar para outra e ainda dedicarem-se a uma terceira antes de completar qualquer delas. Com frequência não seguem as instruções e não terminam os trabalhos escolares, encargos ou deveres. Estes sujeitos têm com frequência dificuldades em organizar tarefas e atividades. As tarefas que requerem a manutenção de um esforço mental são sentidas como desagradáveis e marcadamente adversas. Por consequência, este sujeitos evitam ou sentem repugnância em envolver-se em tarefas que requeiram um esforço mental mantido ou que impliquem exigências organizativas ou uma forte concentração (tais como trabalhos escolares ou de índole administrativa). Este evitamento deve ser causado por dificuldades do sujeito relativas à atenção e não por uma atitude de oposição primária, embora possa existir um negativismo secundário. Os hábitos de trabalho podem ser desorganizados e com frequência perdem, tratam com negligência ou deterioram objetos necessários a tarefas ou atividades. Os sujeitos com esta perturbação são facilmente distraídos por estímulos irrelevantes e interrompem frequentemente o prosseguimento das tarefas que estão a realizar para prestar atenção a ruídos ou factos triviais que são facilmente ignorados pelos outros (por exemplo, o buzinar de um carro, uma conversação em fundo). Esquecem-se muitas vezes das atividades quotidianas (por exemplo, esquecem-se de datas, de trazer o almoço). Nas situações sociais, a falta de atenção pode manifestar-se por frequentes mudanças na conversa, não prestar atenção aos outros, não manter um raciocínio na conversa e não seguir os pormenores ou as regras de jogos ou atividades.
     A Hiperatividade pode manifestar-se por estar inquieto ou mover-se quando está sentado, não ficar sentado quando se espera que o faça, correr ou saltar excessivamente em situações que é inadequado fazê-lo, ter dificuldades em brincar ou dedicar-se tranquilamente a atividades de lazer, frequentemente andar ou atuar como se «estivessem ligados a um motor» ou frequentemente falar em excesso.
     A impulsividade manifesta-se por impaciência, dificuldades para adiar repostas, precipitação das respostas antes que as perguntas tenham acabado, dificuldades em esperar pela sua vez, interromper ou interferir frequentemente com os outros ao ponto de provocarem problemas em situações sociais, escolares ou laborais. As outras pessoa queixam-se de não conseguirem interromper os seu discurso incessante. Os sujeitos com esta perturbação fazem comentários desadequedos, não ouvem as normas que lhe são transmitidas, iniciam um conversa em momentos inoportunos ou interrompem os outros excessivamente, interferem, agarram nos objetos que não lhes pertencem, mexem nas coisas que não é suposto mexer, fazem palhaçadas. A impulsividade pode levar a acidentes (por exemplo, aleijarem-se com objetos, darem encontrões às outras pessoas, agarrarem em panelas quentes) e a envolverem-se em atividades potencialmente perigosas, sem terem em conta as possíveis consequências (por exemplo, trepar para lugares periclitantes e patinar num terreno extremamente acidentado).
     Não é muito frequente que o sujeito revele o mesmo nível de disfunção em todos os contextos ou permanentemente na mesma situação. Os sintomas normalmente pioram em situações que requerem atenção ou esforço metal prolongados ou em situações não apelativas ou sem carácter de novidade (por exemplo, ouvir os professores durante as aulas, fazer os trabalhos da aula, ouvir ou ler assuntos longos, ou trabalhar em tarefas repetitivas e monótonas). Os sintomas desta perturbação podem ser mínimos ou estar ausentes quando a pessoa se encontra sob contolo verdadeiramente rigoroso, numa situação nova, dedicada a atividades especificamente interessantes, numa situação face-a-face (por exemplo, consultório médico) ou quando teve com frequência experiências de recompensa pelo comportamento adequado. Os sintomas têm tendência a ocorrer com mais frequência em situações de grupo (por exemplo, em jogos de grupo, sala de aula ou ambientes laborais). 


Almeida, J.N. (2002) DSM - IV - TR. Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Lisboa: Climepsi Editores

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